Uma busca começa sempre com a Sorte de Principiante. E termina sempre com a Prova do Conquistador”
Paulo Coelho
Como muito bem disse Paulo Mendes Campos na crônica “Mineiro brincando: fala de Minas”, “este nosso Estado tem de tudo com variada de passadio. Tem paca, tem tatu, angu, surubim, tem jacaré, torresmo, tutu. Mineiro é de muitos luxos: só quer o de valor, beleza de lombo, pão de queijo (centenas), linguiça de encomendazinha, excelências. Pinga da purinha, de colar, sincera. Requeijão, uai”. Com muita sinceridade e fé escreveu Amelina neste UM MINEIRO DE CARATINGA NO PLANALTO, Minas tem também José Romão Filho, comendador dos bons, desses como não se fazia antigamente. Mineiro com jeito mineiro, de garra mineira, disposição mineiríssima de construir o mundo com trabalho em silêncio, mil vezes repetindo se necessário for, mil vezes servindo com sempre honesto proceder, porque ficar parado não pode.
Que interessante personagem de Amelina Chaves é o comendador Romão, mineirinho de Caratinga, mineirão do Planalto Central, força e fibra que só Minas Gerais sabe forjar, homem de fronteiras naquele sentido maior de conquistador de mundos e navegante de planícies de nunca acabar. Uma história verídica calcada no verde das montanhas de Minas e nas planuras de Goiás, José Romão, eterno estudante da vida, descobriu por si mesmo que só há uma forma de aprender: através da ação, através do estudar continuado de cada dia, seja como menino vendedor de ovos e bilhetes de loteria, como jovem enxadeiro dos becos de cafezais, fotógrafo, securitário, motorista de ônibus, como empresário do setor de imóveis, seja como fundador de cidades. Sua vida é como a de São Paulo: atividade constante, um não poder parar sem alívio. O relógio mágico de Amelina Chaves retrocede no tempo para resgatar a memória viva que tem sido a existência e o dinamismo do biografado. Passa por Caratinga, por Dom Cavati, Itanhomi, Ubaporanga, Belo Horizonte. Passa por Cristalina, Taguatinga, Padre Bernardo. Passa Minas, passa Brasília, até chegar ao Vale das Macieiras, onde inventa e constrói a Cidade do Comendador Romão. Visível trajetória de aventuras de um homem que não sabe recuar! Sempre uma visão de futuro, caminhar sem limites. O relógio mágico retrocede no tempo para resgatar também seu compromisso de escrever um livro que venha ser um exemplo para quantos querem aprender e lutar, acreditar no esforço humano em busca de vitórias. Amelina dá o seu recado com uma história cheia de emoção, que o leitor vai ler de um só fôlego, tão gostosa ficou, um fio narrativo cheio de encantamento, espécie de reportagem feita para nunca se esquecer.
“As coisas estão é no tempo, e o tempo está é dentro de nós”, sentenciou Cyro dos Anjos, também destes Montes Claros. Verdade? Testemunho de fé na experiência humana? Esperança de que cada experiência é um universo pessoal? Só uma existência servirá de exemplo para todas as outras existências? Quem sabe... diria Amelina, talvez deixando as respostas para o leitor, que também sonha e deseja que os seus sonhos sejam reais. Quem sabe? Quem pode saber? O menino que nasceu no Córrego do Feijoal, ano de 22 da Semana de Arte Moderna, ou o esperantista assíduo da Liga Brasileira de Esperanto, que acompanhou meu inesquecível amigo Nelson Pereira e hoje acompanha os coidealistas Adolpho Miranda, José Carlos Dorini e tantos outros? Quem sabe é o jovem sobrinho de tia Etelvina, o amigo do poeta Camilo Lélis, do Padre Rui, o vicentino, o rotariano, ou o comendador que recebe de presente de Natal este livro dos seus feitos? Só o próprio tempo dirá, principalmente o tempo que marca as coisas e que também está dentro de nós, pois tudo tem seu tempo determinado e para todo propósito debaixo do céu: tempo de nascer, tempo de morrer, de plantar, de curar, de edificar, tempo de chorar e tempo de rir. Tempo de espalhar pedras, tempo de buscar, tempo de perder, tempo de guardar, tempo de deitar fora; tempo de falar e tempo de ficar calado, tempo de amar e tempo de aborrecer, tempo de guerra e tempo de paz. Tudo do tempo segundo o Eclesiastes.
Foi gratificante acompanhar Amelina Chaves no pesquisar, no entrevistar, no arrumar ideias para a composição de UM MINEIRO DE CARATINGA NO PLANALTO, em todo o processo de escrever o livro. Pareceu uma tarefa tão poética que ela se transformou em criança, quem sabe, tentando hospedar a alma da menina do Sapé dos idos de quarenta, quando vestia a transparência mágica dos deuses do Rio Verde, e sonhava toda a sabedoria da inocência interiorana. Pelo que sei, tudo foi um imaginar lúdico, viagem paradisíaca de quem gosta de saborear doces acontecências.
Grande Amelina!
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