MONTE AZUL DE MARIA DA GLÓRIA
Depois do amor e da fome, prevalecem nas boas cabeças e nos justos corações - mais do que tudo - a vontade estética e o interesse de ser imortal. É o ideal do artista, como pessoa e como construtor do mundo e das existências do mundo. Proust, o autor de “La recherche du temps perdu”, saudosista de costumes e pragmático em acontecências, ressaltou que não haverá - na arte ou em qualquer outro setor intelectual - realidade mais profunda que aquela onde personalidades procuram encontrar expressões e ações da vida. Nada mais exato, porque a função da arte é principalmente a de descobrir verdades e reconstituir valores da consciência coletiva.
Assim, querida amiga, “Monte Azul, Retrato e Relatos do Tremedal”, seu primeiro livro sobre a cidade do seu amor, chega no tempo certo e rodeado de belezas nas lembranças e nas ideias, mesmo não contando com os modernos recursos da fotografia digital. É um encantador celeiro de informações sobre coisas, lugares e pessoas. Um maravilhoso conjunto de ilustrações de um compreensível carinho por tudo que a história de Monte Azul registra em tempo de antanho e em tempos modernos, muitos deles da minha geração, pois tendo chegado à sua região em 1945 - melhor dizendo a Mato Verde - assisti a todas as mudanças políticas, à inauguração da estrada de ferro, à consolidação dos hábitos de cultura, e principalmente ao incremento da leitura de livros pelos jovens. Lembro-me dos longos e bem feitos discursos do Cel. Levy, da valentia de Arabel, das campanhas políticas de Sinhô Teles, da elogiada elegância de Lamartine. Continua tudo muito vivo em minha memória. É importante também saber que entre Mato Verde e Monte Azul, dois meses depois das chuvas, estão os cenários mais bonitos do mundo, formados pelo contrastado colorido das serras azul-cinzas e das árvores e lavouras verde-vermelho-amarelas. Podem – sem qualquer dúvida – competir com montanhas e lagos próximos a San Francisco, Estados Unidos; gramados de Montreal, Canadá; e a relevos do Rio de Janeiro e planícies do Pantanal de Corumbá.
Você, Maria da Glória, é uma pesquisadora com elevada capacidade de registrar fatos, levantar tendências e reconstruir caracteres, tudo muito importante para a valorização histórica das gentes e dos costumes. Sem desfalecimento, você abriu baús, leu alfarrábios, colecionou retratos, ouviu histórias e causos, trabalho de quem sabe de responsabilidades e de valores cívicos, únicos caminhos para construção da verdadeira cultura. Parabéns, querida aluna do curso de Letras da nossa montes-clarense FAFIL, tempo romântico do maior amor às artes, fruto do ouro de privilegiadas inteligências.
Calorosas saudações a Monte Azul, ao Norte de Minas, e à família e escola da professora Maria da Glória Feliciano.
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