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Wanderlino Arruda
Djalma Souto




 

Rita Sá

A ave

A ave vermelha
De asas enormes
Piou três vezes
Enquanto rodava.

Rodava e voava
Em volta de mim.

Cansada,
Posou-me no peito
E com o bico
Curvo e longo
Desfez-me o sonho
Arrancou-me o amor
Levou-me o coração.

A piar
A ave vermelha
Voou para donde veio
Cruzou céus de infinito
Mundos de tempo
E levava nas asas
Enquanto piava
Toda a minha vida
Num só grito.

A ave era eu.


Vísceras

Vísceras
Em Sangue
E são carne viva
De amor
De paixão
Ou das duas coisas
Ou de coisa nenhuma.

Depois o mar
Quem chega docemente
E se deita sobre a areia
Assim num beijo longo
Dançando dentro dela
E entrando
Deixando-a molhada
E ela escorrega
Nos seus braços de água
Fundindo-se
De amor
E sexo
Com ele.

E assim
Viscerais e completos
Um no outro
Mar e terra
Cheios de amor
Ou de paixão
Ou de coisa nenhuma.

Como tu e eu.
Ou como toda a gente.
Ou como gente nenhuma.


A barca

o deserto
seco
é o oceano todo
que abarca
a barca
e dentro
leva-me a vida
navegando
pelos mares
e rios
e rio-
-me
no limiar
entre loucura
pura
e morte
lenta.

o vazio
na barca
flutua
sobre o mar
o silêncio
navega

e
atracada
num porto
sem palavra
sem som

muda
e
sem coisa
nenhuma
contigo

à beira
dum precipício.

a minha barca
que te abarca
todo
navega perdida
pelos oceanos fora
sem nunca sair
sempre presa
ao mesmo porto.

o deserto
tu
e o meu amor
por ti.


Interruptor

Primeiro saiste
Não fechaste a porta
Atrás de ti
Apagaste a luz
Deixaste o medo
Acomodar-se
Fazer cama
Deitar-se comigo
O pavor de sair
Pela porta
Que deixaste
Entreaberta
Para voltares
E tornares a sair
Sempre que querias.

Depois voltaste
Abriste a porta toda
Largaste o meu medo
Num canto escuro
Do quarto
Acendeste a luz
O vazio que ficou
Desfez-se do nó
Da agonia
Em que se tinha
Transformado.

Fez-se um lago
Cheio de tudo
E de luz
E a porta
Que ficou entreaberta
Voltaste a encostá-la
No escuro
Apagando a luz
Foste saindo novamente.

E
Novamente
Fiquei no vazio
E o medo
Deitou-se comigo
Outra vez.


Grito

Há um grito
Preso
Mudo
Feito novelo
Que dói
A garganta
Canta
Alma
O deserto
Eco
Fora
Mar imenso

O grito
Corre
Muito
Tropeça
No vazio
Da pressa
E
Ao levantar-se
O céu
Limpo

Espanta-se
Vê-se reflectido
Num espelho
Branco
De oco
Transparente

O grito
Era uma lágrima
Feita mar
Feita terra
Desagua
Neste oceano
Feito tu
E que és tu
Que transbordas
De dentro
De mim
De todas as coisas
E de nada.

O grito
Eu
E este silêncio
Sanguíneo.


Sonho

Quero
O sonho
Bonito
Áureo
Sonhado
E simples.

Querido,
Quero-te
Sorrindo
Como em sonhos
Dói-
-me
De sono
A anestesia.

Breve
Acordar
O frio
Janela aberta
Vejo-te
Morte
Que bailas
No meu rio.


Olhos

Que viesses
De mansinho
Chegasses
E os teus olhos
Nos meus.

Que sorrisses
Com carinho
Olhavas-me
E os teus olhos
Perdidos
Em beijos
Poisavam
Nos meus.


Sanguíneo

a força
do mar contra a barra
rasga-se
dentro de mim

[naufraga perdida]
por ti


Porto de abrigo

meu rio
deságua
em parte incerta

o teu colo
abraça
a minha nau

amarras soltas
tocam guitarras

e fragas
navegam
abraçadas
ao teu porto

[falésia incerta]
vida em mim


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