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Wanderlino Arruda
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Livro de prefácios e comentários

Wanderlino Arruda

2014


O LAÇO HÚNGARO

Muito bem disse Elisée Réclus que a história é a geografia no tempo e a geografia é a história no espaço. Muito seriamente poetou Carlos Drummond de Andrade dizendo que, no limite da coragem, no vão entre céu e terra, os anjos luminescentes zombam da morte e da guerra. Tudo muito! Tudo muito também n’O LAÇO HÚNGARO, de Dário Teixeira Cotrim, historiador e geógrafo que trabalha nos limites do tudo e nas dimensões do sempre. Cotrim é um preciosista do arrebanhar e compulsar documentos, sério apaixonado por velharias que marcam vidas e paixões, sinais da geografia-tempo e do espaço-história. 

Tudo perfeito num livro que tem como figura central Luiz Carlos Prestes, ao lado de importantes militares como Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Miguel Costa, Siqueira Campos, Emídio Miranda. De importantes nomes da estratégia e de aventuras como Correia Leal, Soares Dutra, Ari Salgado, Alberto Lins de Barros. Tudo perfeito como prova de resistência e coragem de matutos baianos e mineiros, entre muitos o famoso Horácio de Matos.

 Difícil entender nos dias atuais a astúcia e a mobilidade de um grupo revolucionário que sai do Rio Grande do Sul, vai ao Nordeste, volta por duas vezes aos territórios Bahia-Minas, ora legivelmente visíveis, ora imaginariamente ocultos, sempre e sempre temidos. O destino era estragar o pouco prestígio que ainda tinha o governo. O objetivo era pregar uma nova era, novo espaço de direito e liberdade, onde e quando todos pudessem participar com ideias e ideais. Mais difícil ainda é compreender a resistência e a esperteza dos nossos interioranos coronéis e seus comandados, jamais deixando barato qualquer avanço a cidades ou a povoados. Luta sofrida e com poucos recursos e muito de destemor, principalmente pela pobreza das comunicações, apenas o telegrama e o próprio, portador de recados.

 Para mim, a leitura d’O LAÇO HÚNGARO foi um reviver das melhores lembranças da minha fase de menino de São João do Paraíso, com passagens por Salinas, Mato Verde e Taiobeiras, lugares em que a história e as estórias dos revoltosos vivem lúcidas e ainda fulgurantes com o silêncio dos esconderijos e o barulho das carabinas. Ouvi muitas vezes do meu avô João Morais, de minha mãe e de Silvina relatos de momentos interessantíssimos: fugas apressadas a cavalo, em carros de bois, a pé. Famílias inteiras levando crianças e novilhas, sanfonas e violões; famílias inteiras levando gordos capados e luzidias galinhas, tudo bem vivinho ou já em panelas e latas de deliciosas farofas. Medo de morrer?  Até que medo havia, mas o mais importante era viajar para a aventura nos escondidos das serras, nas gostosas beiras dos rios, estar em meio de verdejantes e sonhadas baixadas. Para baianos de toda a Bahia e mineiros daqui do Norte, o bom mesmo é o carpe diem, melhor dizendo o aproveitar cada dia de vida. De vida boa, é claro!

Adorei o livro do amigo e companheiro Dário Cotrim e espero que todos os leitores adorem também. É descrição, narração e dissertação; é fotografia, desenho e pintura. O LAÇO HÚNGARO é deliciosa viagem em grande parte dos vinte e seis mil quilômetros e idas e vindas, início na beira do Uruguai e final nos coração da Bolívia, passagens obrigatórias por São Romão e Grão Mogol, ousadas travessias no São Francisco e no Rio Pardo. Melhor mesmo só se estivéssemos na estada de Prestes por Taiobeiras, quando ele e o comerciante João Rego, sentados na porta da loja, prosearam muitas e tantas vezes, falando e imaginando como seria o futuro Brasil.

 Parabéns, historiador Dário Teixeira Cotrim. Os revolucionários que passaram pelo seu e nosso sertão, há oitenta anos, muito lhe agradecem. E nós outros, seus felizes leitores, também o fazemos. Bem haja!

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