Correspondência
e amizade
Wanderlino
Arruda
De
todas as manifestações
de amizade e de carinho,
a correspondência
é uma das mais
interessantes, a que toca
mais profundamente a sensibilidade
de quem escreve e de quem
recebe. Bom e agradável
é ver nas mãos
do carteiro um envelope
com letra amiga, o nome
escrito por quem de alguma
forma quer a nossa felicidade,
o nosso contentamento.
Escrever para as pessoas
a quem queremos bem deveria
ser um exercício
de todos os dias, uma
espécie de doação
espontânea e viva,
própria de almas
afeitas à camaradagem,
ao exercício da
saudade construtiva, ao
apego positivo e enriquecido.
Afinal, a escrita é
o gesto gravado com tinta
e amor, direto e pessoal,
até mesmo quando
feito com os recursos
mais modernos que não
os do próprio punho.
O que mais atrapalha as
pessoas no ato de escrever
aos amigos é a
falsa noção
de que correspondência
tem que ser sempre sob
a forma e a formalidade
de carta, com todos aqueles
palavrórios cheios
de cerimônia e gramatiquices,
com tratamento sério,
repositórios de
salamaleques verbais.
Mas acontece que correspondência
de amizade não
é isso, é
coisa muito mais simples,
mais pessoal, despretensiosos
gestos de simpatia através
de um vocabulário
do dia-a-dia, uma comunicação
sem preconceitos, direta
e limpa de enfeites. Um
bilhete, um recado, um
conselho, uma consulta,
uma informação,
um cumprimento, tudo o
que dirigimos por escrito
a uma pessoa amiga constitui
correspondência.
É preciso aprender
a escrever com freqüência,
criando pontes de amizade,
demonstrando que nossa
memória está
firme, de que o esquecimento
e a ingratidão
não são
os nossos maiores defeitos.
Não deixemos que
o telefone, que nunca
registros, seja um impedimento
à nossa correspondência.
A palavra escrita ainda
vale muito mais porque,
guardada, será
sempre uma boa lembrança,
uma forma de recordação.
Aproveitemos qualquer
papel, não importa
o tamanho, a cor, a origem.
Escrevamos à tinta,
a lápis, de forma
calma ou apressadamente,
mas escrevamos. Por que
não usar um cartão,
uma nota de compra, um
recorte de jornal ou revista
e, em último caso,
até mesmo um papel
de carta propriamente
dito?
O que interessa é
nosso interesse pelo ato
de comunicar, de dizer
que estamos vivos, que
ficamos alegres com a
alegria do amigo, felizes
com sua felicidade. Se
não pudermos escrever
vinte linhas, que escrevamos
dez. Se não pudermos
escrever dez, escrevamos
três, mas não
deixemos de escrever.
O sorriso interior criado
pela nossa amizade vale
mais do que todas as fortunas
do mundo!
Experimente hoje mesmo!