Cronista,
um narrador-repórter
Wanderlino
Arruda
Antes
de mais nada, é
bom dizer que crônica
é coisa de jornal.
Sempre feita depressa,
com hora marcada, muitas
vezes com atraso. É
construída de pequenos
lances, registrando mais
o circunstancial do que
o definitivo. Assuntos
efêmeros, que, vez
por outra, ganham a concretude,
a universalidade, um jeito
especial de ultrapassagem
das fronteiras do tempo
e do espaço. Soma
de jornalismo e literatura,
comentário de assuntos
que podem ser ou não
ser do conhecimento do
público, a crônica
terá - queira ou
não – um
ângulo subjetivo
de interpretação
do fato, algo recriado
pelo cronista, busca do
existente ou do imaginário
muito próxima do
conto, muitas vezes confundidas
com ela, a crônica
é uma narração
do próprio autor
dentro de sua experiência,
de sua visão, como
que uma reportagem comentada
quase ao nível
poético.
Crônica tem de ter
aparência de simplicidade,
mesmo que seja construída
com todos os recursos
artísticos. Como
um jornal nasce, vive,
envelhece e morre a cada
dia, a crônica é
destinada a leitores apressados,
feita para um momento
de leitura. Precisa, entretanto,
de pelo menos um sentido
de duração,
uma mensagem que deverá
ficar na memória.
Não pode ser esquecida
com a folha impressa,
mesmo que esta seja jogada
fora. Crônica não
é notícia
comum, codificada só
para informação
diária. Tem profundidade,
é mais para o sentimento,
com palavras que vão
diretamente à emoção
do leitor, que também
se transforma em cúmplice
ideológico da condição
humana de quem escreve.
É um reencontro
com o prazer ameno, uma
intensidade de sinais
de vida que, se não
escritos, acabam escapando.
Claro que é a pressa
de viver do cronista a
vontade de estar presente
e de ser ao mesmo tempo
em determinado lugar,
que o faz testemunha,
porta voz e intérprete
de um quase real muito
gratificante. A crônica
é mais um espaço
de dimensão interior
repartida entre escritor
e leitor, uma ternura
resgatada das experiências
de cada um. Cada palavra,
cada frase, cada silêncio
representarão um
significado mais individual
que coletivo, pois, no
fundo, a crônica
é uma conversa
entre duas pessoas, um
conluio positivo e amigo.
Um vê o mundo e
a vida da mesma forma
que o outro gostaria de
ver, mas não viu,
ou não sabe ver.
Assim, o autor constrói
o texto e lhe dá
o colorido quase que precombinado
com o seu parceiro leitor.
Comparada com formas mais
consistentes, a crônica
é mais uma barraca
que uma casa de verdade.
Serve só de abrigo
ao espírito, como
um ato de reflexão
compartilhado, mágico,
de conforto ligeiro.
Na verdade, a crônica
é algo que muito
existe, mas que se não
fossem os olhos de espião
do cronista, jamais apareceria
em público. É
que acontecido não
escrito fica apenas como
potencialidade, disperso
conteúdo não
sentido, essência
não encontrada.