Há
um bocado de tempo, minha amiga e
vizinha Yara Souto emprestou-me os
originais de uma tese de doutorado
de sua irmã Teresinha Souto
Ward, apresentada à Universidade
de Stanford, dos Estados Unidos. Uma
bela e sábia dissertação
que, submetida ao Departamento de
Espanhol e Português e ao Comitê
de Graduação, em setembro
de 1981, mereceu-lhe aprovação
incondicional para o grau de “Doctor
of Philosophy”, um dos títulos
de maior prestígio em todo
o mundo. Um interessante trabalho
sobre a nossa realidade cultural do
Norte de Minas, tese sobre a oralidade
da linguagem no Grande Sertão
– Veredas, de Guimarães
Rosa, nosso quase conterrâneo
de Cordisburgo, lá pertinho
da Gruta de Maquiné. Uma pesquisa
de fôlego feita por uma estudiosa
que demonstra amar grandemente sua
terra e sua gente, tudo indica, mergulhada
em constantes saudades deste sofrido
sertão!
Guimarães Rosa, o sonoro autor
de Grande Sertão–Veredas
e de mais uma meia dúzia de
livros notáveis, tem marcadas
grandes paixões em Montes Claros.
Luizinha Barbosa Lopes, Yvone Silveira,
Zinda Barcala Jorge, e este que vos
escreve... mas sobretudo, três
paixões que não têm
tamanho, as de Júlio Melo Franco,
João Carlos Sobreira e João
Lúcio da Silva, os três
mais embeiçados na obra toda
daquele que foi embaixador no mundo
diplomático, mas sempre vaqueiro
no tempo das férias no interior
mineiro! João Guimarães
Rosa tem uma mística de encantamento
nunca igualada por outros escritores,
mesmo por aqueles que nos falam mais
perto ao coração e à
mineiridade, mesmo pelos que registram
o fôlego autêntico dos
que vivem mais diretamente nossas
tristezas e alegrias, nossa suave
malícia ou mesmo nossa ingenuidade
de matutos!
Grande Sertão–Veredas
tem no sertão de Montes Claros,
não na Montes Claros cidade,
uma vastidão de influências
espalhadas. Este Norte isolado e de
vida bem diversificada e enriquecida
por costumes próprios, tornou-se
um grande centro da epopéia
guimaraeseana, transcolorido com as
nuances tanto do dramático
como do lírico de nossas tradições.
Se Guimarães Rosa não
tivesse certidão de nascimento
como filho de Cordisburgo, poderíamos
tê-lo inteiramente nosso, como
montes-clarense dos mais autênticos!
Assim, Teresinha Souto Ward falou
e disse sobre gente e costumes da
sua própria Terra, das suas
lembranças e vivências
dos Montes Claros! E quem fala assim,
fala de cátedra, merecedora
de todas as distinções
da nota de louvor!
Eu gostaria de voltar ao assunto e
comentar diretamente o texto de sua
dissertação, vivendo
com os leitores o gratificante contato
de assuntos nossos e nomes de conterrâneos
sonoramente musicais como Carrim,
Preto, Francim Durães e Raimundo
Bindóia. Não poderei
ficar calado também quanto
ao Manuelzinho do Juca, ao João
do Carrapicho ou à Folia do
Bom Jesus!