Portugal
e Brasil
Wanderlino
Arruda
Mais
para o lado do curioso que do científico,
é sempre interessante verificar
as diferenças existentes na
língua portuguesa nos espaços
ocupados por Brasil e Portugal, duas
culturas numa só cultura e
uma só origem: a lusitana.
Juntos na época colonial e
quase sempre juntos depois da independência,
as duas literaturas, os noticiários
de jornais, e mesmo as migrações
conjuntas jamais conseguiram impor
uma escolha lingüística
de modo a tornar comum muitas palavras
e seus significados. Uma só
usada lá, outras só
pronunciadas aqui, algumas lá
e cá, mas nem sempre com os
mesmos sentidos. E, partindo para
os dialetos, principalmente os portugueses
(beirão, algárvio, interaminenho,
transmontano, lisboetão) é
aí, que a coisa pega, muito
difícil pra nós brasileiros.
Veja alguns exemplos colhidos em Portugal,
nos hotéis, no comércio,
nos cafés e restaurantes, no
dia-a-dia das ruas e lindas praças
de Lisboa, Porto de Coimbra. Também
em Almada, em Santarém e na
Serra da Estrela. Não vá
pensar que é brincadeira. É
tudo verdade, pois fala é coisa
séria, mesmo que seja divertida.
Por exemplo: Pomar, em Portugal, é
loja onde se vende frutas; puto é
criança abandonada, rebuçado
é bala doce; revisor, chefe-de-trem;
sobrescrito, envelope; talho, açougue;
traseira, fundo de casa; trovão,
freio de carro; miúdo é
criança; folhetim é
novela; recheio, móveis domésticos;
anginas, dor de garganta; vendedor
de carne, dono de açougue é
carniceiro. Mais ainda: Alcatifa é
carpete; soco é tamanco; sinaleiro,
guarda de trânsito; tasca, botequim.
De cá para lá, trânsito
é viação; maquiadora
é visagista; vitrine e montra;
fogo é lume; bolsa, mala e
mocotó, mão-de-vaca.
Quando tomamos um táxi em Portugal
o motorista, na hora de cobrar a conta,
olha no Relógio, que é
o nome do taxímetro. Numa sorveteria
ou geladeira, compramos gelado (picolé)
e neve (sorvete). Num talho (açougue),
pede-se lombo, que é o nome
de filé. Num bar, pedimos gasosa
(refrigerante), água de quinino
(tônica), bagaceira (cachaça).
Numa charutaria compra-se havano (charuto),
iluminador (isqueiro). Num jogo de
futebol (ludopédio, não,
ludopédio é palavra
brasileira!), podemos ver e admirar
o relvado (grama), o esférico
(bola), o guarda-redes (goleiro);
os avançados (atacantes), os
castigos (pênaltis), as camisolas
(camisas de malha). Ganhará
a Equipe que fizer mais golos. Num
hotel. O pernoite é dormida
e o banheiro é lavabo. Na escola,
o professor escreve na ardósia.
Na rua ou em casa, jovem séria
é rapariga (feminino de rapaz)
e pejorativa é o nome moça
(que quer dizer desvirginada). Em
alguns lugares, rapaz é chamado
de senhorito, e se for pobre é
galego.
Há muitas palavras comuns usadas
em Portugal e no Brasil, dependendo
da região: Reclamo/propaganda,
sumo/suco, vivenda/casa, pimenta preta/pimenta
do reino, comboio/trem-de-ferro, condiscípulo/colega
de escola. Constipação
é resfriado, frigorífico
é geladeira, arca congeladora
é frízer. Mas já
imaginou isopor chamar esferobite?
Marcha à ré, marcha-à-trás?
Lá o gordo e o magro são
chamados de o bucha e o estica e os
três patetas, de os três
estarolas. Pai natal é papai
Noel. O mais gozado, porém,
é nome recém-casados:
casados de fresco. Eis uma pequena
estória: “Um Ciclomotorista
(motoqueiro) vai à esquadra
(delegacia) pede uma chapa de matrícula
(placa) para a sua motorizada (moto)
e depois, voa pelo alcatrão
(corre em velocidade pelo asfalto).
Ora pois, pois!