Tempos
de Montes Claros
JOSUÉ
DE OLIVEIRA LÍMA
Nada
mais justo do que reconhecer e proclamar
o valor de quem se impõe com
uma reserva de talento acumulado num
arsenal de inteligência como
Wanderlino Arruda, jovem escritor
norte-mineiro, portador de uma gama
de experiência e capacidade
de vida, autor de “Tempos de
Montes Claros”, editado em Belo
Horizonte, livro que reúne
documentação memorialística,
com o prefácio de Maria Ribeiro
Pires, da Academia Municipalista de
Letras de Minas Gerais.
Nos domínios do espírito
e da espiritualidade os “Tempos
de Montes Claros”, de Wanderlino
Arruda, estão plenamente ajustados
à teoria do tempo cultural,
aquele que difere do tempo calendário,
isto é, o que não conta
os intervalos ocasionados pelas dificuldades,
pelos acidentes e pelos abrolhos da
existência humana. É
o tempo do ideal e do idealismo, do
espírito e do espiritualismo,
da sociedade e do socialismo, no bom
sentido do termo. É o tempo
da alma e do corpo, do céu
e da terra, da vida e da eternidade,
porque a morte não conta na
perspectiva do tempo cultural.
Toda a carga emocional do homem de
pensamento que é Wanderlino
Arruda está concentrada na
sua biofilia, como alto sentido da
existência consagrada ao convívio
com o seu meio. As criaturas humanas
são razões fortes para
a sua vida. A família, o trabalho,
a cidade em que nasceu, a terra que
o acolheu, são os ingredientes
poéticos e líricos ainda
não aproveitados por Wanderlino
Arruda, que preferiu os temas memorialistas
para dar vazão aos sentimentos
de sua força intelectual.
Posso muito bem referir-me desse modo
sobre o autor dos “Tempos de
Montes Claros” porque senti
os primeiros impulsos de sua intelectualidade,
antes de Wanderlino Arruda tornar-se
Professor de Lingüística
e Língua Portuguesa, na Fundação
Norte-Mineira de Ensino Superior e
membro da Academia Montesclarense
de Letras, mas quando já era
o jovem redator de “O Jornal
de Montes Claros”, de Oswaldo
Antunes de depois de “O Diário
de Montes Claros”, com Waldir
Sena Batista.
Ele carrega no bojo do seu talento,
algo parecido, também, com
Winston Churchill: gosto pela política,
pela pintura, jornalismo, oratória,
pelas ciências e pelas artes.
Homem sem vícios, não
fuma charuto, mas está disposto
sempre a fumar o cachimbo da paz com
seus semelhantes.
Nas duas leituras que fiz em torno
do seu trabalho, uma rápida,
quando recebi o exemplar com sua amável
dedicatória e outra mais a
vagar com senso analítico,
pude sentir novamente a presença
de grandes figuras que conheci na
cidade tema do livro de Wanderlino
Arruda: Godofredo Guedes que me fez
presente com duas telas de sua autoria,
em 1958. Konstantin Christoff, médico
europeu aclimatado ao Brasil, onde
tem cultivado sementes de boa criatividade
artística e cultural. João
Vale Maurício, escritor e membro
da Academia Montes-clarense de Letras,
ex-Reitor da Universidade Norte-Mineira,
sociólogo e responsável
por notável contribuição
cultural ao Estado de Minas Gerais.
Por fim, Luiz de Paula Ferreira, intelectual
e homem de negócios de notório
valor.
No próprio dizer Wanderlino
Arruda “julgar valores humanos
sempre foi uma tarefa difícil”.
Por isso não será necessário
converter em tribunal este espaço
para julgamento cultural, inclusive
porque seria prematura faze-lo quando
se sabe que o autor de “Tempos
de Montes Claros” poderá
prestar, ainda, excelente contribuição
às letras de sua terra, como
bom memorialista da Língua
Portuguesa para o Brasil.