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Wanderlino Arruda
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Voltar das férias

Wanderlino Arruda

Ninguém sabe explicar como e porque o tempo de férias, gasto sem fazer nada, passa tão depressa e de modo tão imperceptível. Os dias e semanas voam encantados, bailando sobre nossa alegria pelos momentos que sobram da tribulação do sempre e do constante. Humberto de Campos, em uma de suas inesquecíveis crônicas de fim de vida, lá pelos idos de trinta, dizia que o tempo de alegria tinha a velocidade das borboletas, a agilidade multicolorida de asas que vão aqui e acolá, saltitantes, a zombar da tristeza e da dor, que rastejam como lentas e lerdas lagartas. A alegria é como o perfume, plena de presença, mas, sempre fugaz, passageira, marcando um fluxo de bem-estar. Alegria é como o azul ou qualquer outra cor, que só aparecem com a luz, o tênue espaço de claridade.
Teço estas considerações sobre o tempo e sobre a alegria, para dizer que não vi passar os meses de ausência deste JORNAL DE DOMINGO, quando não sei como nem de que ocupei todas as minhas horas de folga, de novembro a fevereiro. Em outubro, em Brasília, eu terminava uma estafante tarefa e organizar um curso de comunicação para colegas mais novos do Banco do Brasil, mês e meio que realmente me tomaram todos os minutos de horário útil. Juntados aos trabalhos de provas finais da Faculdade em novembro e dezembro, é justo e normal o acúmulo de cansaço e disposição para o descanso. Janeiro, ressaca das festas do Natal, início fim de viagens ao Rio e à Bahia, transforma-se em mais um motivo de acomodação. Fevereiro chega e acabam-se as desculpas, esvaem-se os sonhos de folga e mãos no serviço, que o trabalho não espera por ninguém. É claro que com tudo isso, não precisava ficar ausente do Jornal, como não tenho ficado até aqui em todos os muitos anos de colaboração.
Desculpas não valem. Nenhum motivo pode ou deve obrigar a ausência deste convívio tão doce de cada manhã de domingo. É como um som de piscina a revigorar o corpo e a alma, tonificando a amizade de quem lê e quem escreve, mesmo quando quem escreve não escreve lá tão grandes coisas... Aqui estou, depois da Primavera e em pleno Verão, tempo-início de novas jornadas, ano do centenário da Imprensa dos Montes Claros. Tempo histórico, marco de muitas lutas de velhos e de novos, velhos idealistas, e novos do profissionalismo, que escrever, hoje já se tornou trabalho de hora marcada, de jornadas inteiras, com salário em fim de mês. Tempo e saudades dos mais antigos, ainda diletantes, apesar dos trinta anos de casas neste velho JMC, pois, aqui estou desde 1954, recém-saído do Grêmio “João Luiz de Almeida” e do Tiro de Guerra, lugares onde o Waldyr Senna também fundava e escrevia jornais.
Que esta volta tenha sempre o sabor de todas as idas e vindas das letras de forma do nosso Jornal. Que outros companheiros de páginas e colunas também venham, logo e sem demora. Que cheguem para perto Maria Câmara, Ruth Tupinambá, Valdir Figueiredo, Yvonne Silveira, Maria Luíza, o Padre Murta. Que Maire Rose não fique tanto no escreve-não-escreve, aparecendo só algumas vezes: Cheguei e espero todos os meus colegas, para enchermos estas páginas de alegria, de sonhos e, como não pode deixar de ser, até de um pouco de loucura, santa loucura de todos nós escravos das letras...

 

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