Mesmo aqueles que fazem da arte uma
atividade paralela e outra qualquer,
não a usando como uma forma
de sobrevivência, trazem sobre
si uma grande carga de responsabilidade
com o mundo à sua volta e com
o momento histórico no qual
está inserido. Arte na sua
verdadeira essência significa
educar, propor, retratar e muitas
vezes denunciar esta ou aquela paisagem
ou situação. Ela pode
se manifestar através da música,
pintura, literatura, teatro, etc.
ou pode ser apenas uma visão
de mundo, ou um jeito próprio
de apreciar as coisas. Não
importa de onde ela venha, como ou
quem a trás: brota natural
e irresistível dentro do homem
e abrange tudo, ultrapassa até
mesmo o poder pedagógico das
grandes escolas...
O enfoque hoje é para o artista
plástico Wanderlino Arruda,
que estará expondo seu trabalho
na mostra de arte a ser realizada
de 07 a 23 de março próximo
no Centro Cultural. Através
de sua própria análise,
ele afirma que encontrou na pintura
a oportunidade para testar sua força
de vontade e sua capacidade de iniciativa,
um teste que envolve a coragem de
acertar ou errar. Sua carreira começou
naturalmente, seu aprendizado de pintura
não passa de vinte e poucas
aulas e, cada nova etapa constitui
uma série de obstáculos
a transpor e um grande montante de
sacrifícios, o que faz de sua
vida uma maratona. A pintura está
presente em todos os momentos, pois
pertence a uma família de artistas
plásticos, tendo como colegas,
em seu próprio ateliê,
sua mulher e seus três filhos,
todos tomando parte no mesmo interesse
artístico.
Sua especialidade é a pintura
a óleo e acrílico, usando
sempre pincel e espátula. Seus
trabalhos vêm sempre com revestimento
plástico, algumas vezes com
tratamento especial. Para cada tele
pintada, ele já tem sempre
uma moldura pronta, de modo que o
quadro possa ser colocado na parece
logo após o término.
Wanderlino Arruda tem preferência
por marinhos e usa as cores a seu
gosto, muitas vezes monocromaticamente.
É quase impossível,
um quadro seu não mostrar montanhas:
uma espécie de identidade com
a paisagem das Minas Gerais. Em momentos
de calma, pinta quadros barrocos mostrando
a parte antiga de Montes Claros. Suas
incursões incluem os cenários
de Ouro Preto, Diamantina e Grão
Mogol. Tem como costume anotar cenários
em suas viagens, e em seus quadros
podem figurar tanto o Rio Grande do
Sul, como o Nordeste ou a Amazônia.
Seus quadros dão sempre uma
idéia de repouso e serenidade.
Seu primeiro quadro foi pintado em
1974, por desafio do pintor Samuel
Figueira e foi feito em tom azul e
branco retratando uma paisagem de
chapada, já com relativa transferência,
o que transformaria, mais tarde, em
sua principal característica.
Sua experiência está
descrita no livro “Tempos de
Montes Claros”, de sua autoria
e no livro “Montes Claros, sua
história, sua gente e seus
costumes”, de autoria do historiador
Hermes de Paula. Tem seus quadros
vendidos na França, Estados
Unidos e em Portugal, onde se encontra
seu segundo quadro pintado, um primitivo.
Seu estilo é definido como
barroco ou hiper-realista e ainda
traz traços de ingenuidade
marcados em sua primeira fase. Conforme
conta ele próprio, seus quadros
atualmente são mais de seiscentos
e estão espalhados por vários
estados, principalmente em São
Paulo. Sobre as muitas experiências
adquiridas ele destaca uma no Distrito
Federal, no ano de 1978, quando enfrentou
75 concorrentes em um concurso lançado
pela Sociedade de Artistas Plásticos,
no qual saiu finalista com um quadro
pintado em cinco horas enfocando o
Palácio do Itamarati. Foi o
organizador da mostra inaugural de
arte do Centro de Extensão
Cultural, em maio de 79. Sua participação
na Feira de Arte da Praça Dr.
Chaves é cotada como 100% desde
que iniciou até o presente
momento.
Sobre seu estilo, que sofreu inicialmente,
influência de Godofredo Guedes,
Konstantin Christoff, Samuel Figueira
e Raimundo Colares e, aos poucos,
foi adquirindo feição
própria. Ele faz questão
de frisar a firmeza de seu estilo
para não confundir com nenhum
dos seus orientadores. Quanto a seu
método Wanderlino Arruda diz:
“Não uso cavalete, normalmente.
Prefiro a superfície plana
para apoiar a tela, talvez forçado
pelos anos de experiência de
escritório, sempre trabalhando
em mesas. Acho melhor a visão
da superfície, na horizontal.
Trabalho sempre de pé para
facilitar a visão em todos
os ângulos. Não tenho
compromisso de executar a pintura
nos moldes acadêmicos, ou seja,
de faze-la de cima para baixo e da
esquerda para a direita. Às
vezes até começo os
meus quadros de baixo para cima, ou
mesmo em diagonal. Raimundo Colares
me ensinou que em arte tudo é
válido, o que importa é
o resultado”.
Além de artista plástico,
outras atividades marcam a carreira
de Wanderlino Arruda como profissional.
Elas podem ser destacadas como: professor
titular de Língua Portuguesa
e de Lingüística na Faculdade
de Filosofia – FAFIL, de Montes
Claros; professor de Lingüística
Aplicada à Comunicação,
para administradores do Banco do Brasil
e no Projeto Rondon; participação
em congressos nacionais e internacionais;
atividades públicas ligadas
a várias entidades de Montes
Claros e atividades jornalísticas
desde 1954. Suas principais obras
publicadas são: “Tempos
de Montes Claros”, Montes Claros,
sua história, sua gente e seus
costumes” (participação)
e “Antologia da Academia Montes-clarense
de Letras” (participação).