Meu
irmão João de Paula
Wanderlino
Arruda
Ainda
em Brasília, final de período
de trabalho, já com o olho
no caminho de Montes Claros, recebo
a notícia da grande irmão,
o bom vizinho da Rua São Sebastião.
Olímpia me diz com tristeza,
numa voz de muita saudade, que João
acabara de nos deixar. Sereno, seguro,
sem alarido, cheio de fé como
sempre viveu, quase alegre e justo
sabedor do próprio destino.
Um verdadeiro João de Paula,
homem sábio, racional, de costumes
ilibado, religiosamente livre como
um condor de grandes alturas. Um mestre
que encantava a todos, principalmente
nos seus últimos anos de vida
de ate quase mística, pirografando
umburanas, cedros, bálsamos,
madeiras que perfumavam o corpo e
a alma. Tudo passa, e João
de Paula também tem que passar.
A hora sempre chega!
Agora,
já mais distante, ermo a perspectiva,
faço distância para ver
melhor o companheiro João de
Paula. Para ver e analisar. Para ver
e admirar. Para ver e sentir. Mais
de longe é possível
ver o irmão por inteiro, de
pé a caminhar firme num destino
traçado por Deus e por ele
mesmo, cavaleiro andante de muitos
sonhos. João poetou a vida
no que ela tinha de colorido mais
suave.
De
pouca ambição e muita
coragem, fez da existência um
doce, combate, uma luta inteligente
e sem pressa, quando muitas vezes
sentia-se vencido e vencedor ao mesmo
tempo. Um homem de horizonte sempre
azul como bem disse o seu primo Luiz
de Paula, da mesma coragem e do mesmo
sangue. João de Paula um homem
da cor do céu, de brilho da
turquesa e do cobalto como luz de
infinito em dia claro.
Mas
como era mesmo o cidadão marido
de D. Lea e pai de Iran, Paulo, Acácia,
Verônica, Marta, Graça,
Raquel, Neuza e Fabíola? Como
era o irmão de Hermes e Maria
de Paula? Como era o futuro químico
que deixou os estudos para se casar,
mas que , farmacêutico em Pires
e Albuquerque, receitava e curava
doentes? Como era o comerciante, o
industrial, o artista, o filósofo,
o maçom, o rotariano, o espírita,
o contador de estórias, o cronista,
o poeta, o conselheiro? Como era o
amigo solidário de todos os
amigos? Como era o homem de nunca
esconder idéias, de nuca ter
medo de ser verdadeiro? Como era você.
João de Paula?
Quem
conheceu João de Paula é
que pode saber quem foi João
de Paula. Que memória prodigiosa
de historiador e genealogista, que
narrador empolgante, que grande cultivador
de amizades. Tolerante de incrível
capacidade de perdão, João
foi um sábio abridor de caminhos
para ensinar bondade a muita gente.
Oitenta e três anos de magistério
de amor, Mensageiro de luz! Desta
mesma luz, que pedimos a Deus, João
de Paula ilumine infinitamente a sua
trajetória de eterno trabalhador.